domingo, 22 de novembro de 2015

Capitulo 7 - (Re) aprendendo a Viver (Cont.)

- Sabe, as coisas que acontecem na nossa vida nos fazem repensar as nossas crenças - disse Enzo em tom calmo - Eu sempre achei que casamento é uma responsabilidade muito grande, por isso nunca imaginei casar tão cedo. Porém, quando aquele carro me bateu e eu tive que passar meses em recuperação no hospital, eu percebi como o nosso tempo é limitado aqui neste mundo! Há tantas coisas que nós não nos permitimos ou não aproveitamos por achar que ainda temos uma longa vida pela frente! Infelizmente, isto não é verdade para todas as pessoas! Desde então eu me decidi a aproveitar a minha vida de forma mais plena! Portanto, se você me dissesse isso a alguns meses atrás, eu com certeza diria que não. Na verdade, hoje a minha resposta ainda é não, mas...  - Enzo estendeu a mão para Daniel, o qual estava com uma expressão confusa no rosto, e o puxou para si. Então aproximou a sua boca da orelha direita do namorado e sussurrou: -  Eu não quero ser o seu marido de mentira! Mas que tal se você fosse o meu noivo de verdade?
- Amor! - disse Daniel, o qual se afastou de Enzo para poder olhá-lo no rosto. Ambos tinham um enorme sorriso no rosto - Então você quer se casar de verdade?
- Sim! Bem, eu não planejo fazer a cerimônia tão cedo, mas noivar é um passo a mais na nossa relação! Noivar exige um voto ainda maior do que uma simples relação de namoro e essa é a minha forma de mostrar que eu quero viver sem ter medo de assumir cada vez mais responsabilidades! Principalmente, porque você é digno de tal gesto! Você também tem sido grande parte do meu mundo e eu quero assumir esse laço de confiança com você e com a nossa relação! Eu só não me casaria com você agora, porque nós não temos condições de sair da casa dos nossos pais no momento! Mas quando tivermos, eu ficarei feliz de poder chamá-lo de marido! Então, você aceita ser meu noivo?
- É claro! - disse Daniel, antes de beijar o namorado. Os dois se envolveram de modo tão intenso e profundo naquele beijo, que não notaram a chegada de Pedro.
- Err... O seu amigo já está alojado!
- Ah... Oi pai - disse Daniel, corado e sem ter coragem de encontrar os olhos do pai - Obrigado!
- Desculpe pela cena Seu Pedro - disse Enzo, também com as bochechas vermelhas.
- Não tem problema meus filhos! Mas, se vocês quiserem mais privacidade, eu posso voltar em alguns minutos.
- Não! - disse Daniel veementemente - Eu tenho uma novidade pai! Eu não sei se o senhor vai aprovar, mas eu vou contar mesmo assim... - continuou ele em tom animado - Eu e o Enzo estamos noivos!
- Noivos?! Como isso aconteceu?
- Bem, eu pedi para ele ser meu "marido", mas seria de modo figurativo! Então ele disse que queria noivar de verdade! Pois, como sempre, ele quer tomar as iniciativas! - completou ele rindo.
- Espere, eu não entendi... vocês pretendem casar ou não?
- Seu Pedro, eu pedi ao Daniel que nos tornássemos noivos, mas isso irá se prolongar até que tenhamos condições de morarmos sozinho e, aí sim, casar! O senhor aprova isso?
- É claro que não! - disse Pedro, o que causou grande surpresa em Enzo e Daniel. Mas para maior surpresa dos dois, ele continuou: - Inadmissível que nós não façamos um jantar para comemorar e oficializar isso!
- Então o senhor aprova?! - disse Enzo, radiante.
- É claro meu filho! Eu já pude perceber que você é uma pessoa centrada e eu tenho certeza que se você decidiu fazer isso, é porque realmente está seguro da sua decisão! Mas eu quero fazer disso algo muito especial!
- Pai! O senhor não sabe o quanto eu fico feliz que o senhor tenha compreendido a nossa decisão! Eu confesso que estava um pouco receoso em relação a como o senhor iria encarar essa questão de casamento, considerando as suas crenças religiosas!
- Meu filho, depois de perder a sua mãe e quase te perder também, não há como eu não ser mais compreensivo em relação à sua relação com o Enzo! Afinal, foi por causa disto que você decidiu não nos deixar! Eu te amo meu filho, e eu só quero te ver feliz! Eu peço desculpas novamente por qualquer atitude passada que tenha te machucado! Eu ainda tenho uma relação íntima com Deus, mas eu estou mudando algumas crenças para que eu possa efetivamente apreciar o maior presente que ele me deu: você! Este processo pode ser lento, mas eu estou me esforçando!
- Pai! - disse Daniel abraçando o pai - Eu também te amo! O senhor tem sido maravilhoso e eu agradeço todo o seu esforço!
- Enzo - disse Pedro, dirigindo-se ao futuro genro - Eu já te disse isso antes e repito: se o meu filho tem que namorar, ou nesse caso noivar, um rapaz, eu fico feliz que esse seja você! Eu te admiro muito e você ganhou o meu respeito e a minha eterna gratidão ao fazer o meu filho feliz!
- Eu fico lisonjeado seu Pedro! Obrigado! - disse Enzo, levemente corado.
- Tá bom Pai, não enche o Enzo de elogios ou ele vai virar um tomate! Sabe, ele não reage muito bem a elogios!
- Daniel, cale-se! Ou eu vou repensar o meu pedido! - respondeu Enzo rindo.
- A sua casa é linda Seu Pedro! - disse Lucas, descendo os degraus da escada que levava para o andar de cima.
- Ah, obrigado Lucas! Fico feliz que tenha gostado! Sinta-se em casa!
- Foi muito difícil encontrar o lugar? - perguntou Daniel.
- Não tanto. Mas é um pouco difícil de chegar sem um carro! Eu precisei pegar um taxi da rodoviária!
- É uma pena que você não pôde vir conosco mais cedo! Isso te pouparia algum dinheiro! - disse Pedro.
- É, eu realmente não podia deixar de ir para a clínica hoje. Mas tudo bem, a viagem até aqui tem uma bela paisagem e a sua casa de campo vale totalmente a pena!
- Que bom que você conseguiu! E bem a tempo de ser um dos primeiros a saber que em breve estes dois estarão assumindo um compromisso muito mais sério!
- Sério?! Isso é ótimo! Quando será o casamento?
- Não tão cedo Lucas, mas seremos noivos de agora em diante! - respondeu Enzo.
- Ah, entendi! Fico feliz por vocês!

A noite não se estendeu por muito mais tempo, visto que todos estavam muito cansados da viagem em direção à casa de campo. Assim, logo todos se despediram e foram para os seus respectivos quartos, sendo que Enzo e Daniel ficaram no mesmo quarto. Os dois deitaram na cama e ficaram acariciando um ao outro, enquanto conversavam.

- Você é lindo sabia?! - disse Daniel, acariciando o rosto de Enzo - Eu sou o cara mais sortudo do mundo em poder, em breve, te chamar de noivo!
- Obrigado! Você é imensamente mais lindo, mas eu aprecio os seus elogios!
- Depois de muita insistência da minha parte né? - disse Daniel, em tom de brincadeira - No começo eu precisava te elogiar inúmeras vezes, até você aceitar que o que eu estava dizendo era verdade.
- Eu só não reajo muito bem a elogios - respondeu Enzo rindo - Mas obrigado por insistir!
- Com você eu insisto em tudo, porque vale a pena! Eu insisti na minha estúpida ideia de te chamar de meu marido e agora somos noivos!
- É verdade, você foi bem insistente com isso! - disse Enzo, acariciando o rosto de Daniel - Eu admiro a sua persistência e o seu comprometimento! Eu te amo!
- Eu também te amo!  Respondeu Daniel, logo antes de suavemente beijar o namorado. Isto evoluiu para um ritmo mais intenso e, de repente o rapaz sentiu a mão de Enzo tocar a sua virilha, pelve e finalmente parar no botão em sua calça - Amor?! O que você está fazendo?
- Você quer, certo? - sussurrou Enzo para o namorado.
- Sim, mas... - Daniel ponderou - Eu quero! Eu só não sei muito bem como... - admitiu o rapaz.
- Bem... eu meio que perguntei ao Yuri sobre isso, quando eu estava internado - disse Enzo, levemente corado - Mas na verdade, isso vai ser 80% um processo de descoberta que nós vamos ter que trilhar juntos! Eu não tenho pressa e se não conseguirmos, eu já vou estar contente de poder ver o seu corpo nu! - O rapaz ia corando cada vez mais - O seu corpo é lindo e eu gostaria de poder apreciá-lo por completo mais vezes - Então Enzo puxou Daniel para si e continuou o processo de abertura da calça do namorado, o qual não ofereceu resistência.
- Se é isso que você quer, eu estou disposto a tentar - Disse Daniel, enquanto gradualmente retirava as outras peças de roupa, tanto suas como de Enzo. Assim, os dois estavam nus e, calmamente, explorando o corpo um do outro. Eles não tiveram muitos problemas nas preliminares e passaram o tempo que lhes pareceu necessário e prazeroso nesta etapa. Porém, quando estavam prontos para avançar para próxima etapa, Daniel lembrou: - Eu não trouxe camisinha!
- Eu trouxe! - respondeu Enzo, firmemente - Pega no bolso da frente na minha mochila - enquanto Daniel caminhava, ele acrescentou - Eu disse que eu pensava que esse fim de semana fosse para a gente!
- Esse final de semana É para a gente! - respondeu Daniel, enquanto trazia o pacote de camisinhas. Então, deitando-se novamente ao lado do namorado, ele acrescentou - Agora vamos ver se você aprendeu direitinho o que o Yuri te ensinou! - Ele riu, porém mantinha uma feição sedutora.
- Você sabe que eu sou excelente aprendendo as coisas! Principalmente se isso envolve usar e abusar do lindo corpo do meu namorado! - Então Enzo, novamente, puxou Daniel para si e dessa vez não houve mais interrupções.
No outro dia, Enzo foi acordado por Daniel, o qual sussurrava em sua orelha:

Vamos acordar, dorminhoco?! - ele estava atrás de Enzo e envolvia o rapaz em um abraço.
- Nãão! - respondeu Enzo, em um misto de espreguiçar e falar.
- Mas já são 11h! Precisamos aproveitar o final de semana!
- Tudo bem! - disse Enzo, virando-se para ficar cara-a-cara com o namorado - Mas a culpa é sua por eu estar tão cansado!
- Ora, você vai dizer que não adorou a nossa noite?! Porque eu não notei nenhuma resistência da sua parte! - respondeu Daniel rindo.
- É claro que eu adorei! Eu amei!
- Por falar nisso, não me deixe esquecer de ligar para o Yuri e agradecer, porque ele deve ter te orientado muito bem! Você sabia exatamente o que estava fazendo, mesmo com a sua... bem, com a sua "limitação"!
- Isso é verdade! O trabalho que o Yuri fez foi, com certeza, essencial! É tão bom ter um profissional que ligue exatamente para essas coisas do nosso dia-a-dia, que parecem tão triviais, mas, na verdade, são tão importantes e complicadas de serem realizadas por pessoas que tem uma limitação, como você disse - respondeu Enzo, em tom sério. Então, mudando para um tom brincalhão, completou: - Mas, 50% do trabalho também foi talento desta pessoa que vos fala!
- Enzo, também me lembre de procurar a sua modéstia! - disse Daniel, rindo - Ela ainda pode estar no hospital! Mas, voltando ao assunto, eu adorei a nossa noite e fiquei feliz de poder, você sabe, fazer amor com você! Eu confesso que não estava esperando que isso fosse acontecer tão cedo!
- Para falar a verdade, nem eu! Mas eu não quero deixar que a minha limitação influencie demais na minha vida! Eu te amo e te desejo, então eu quero fazer amor com você quando eu tiver vontade, independentemente se eu vou recuperar os movimentos das minhas pernas ou não!
- Eu também te amo e te desejo! - disse Daniel, enquanto percorria as bordas do rosto de Enzo com as pontas dos dedos - Fazer amor com você é uma experiência maravilhosa! Você me fez descobrir um novo mundo, sexualmente e emocionalmente!
- Bem-vindo ao meu mundo! Regado a festas, sexo e bebidas!
- Cala a boca Enzo! - disse Daniel, rindo e empurrando o namorado - Eu estou me declarando aqui e você fazendo graça!
- Desculpa amor! Eu não resisti! - respondeu Enzo, também rindo - Mas, falando sério, eu fico feliz que você esteja apreciando essa nova experiência! Algumas pessoas não têm boas experiências e acabam achando que o sexo entre dois homens é sempre doloroso ou desagradável! Eu tenho um amigo assim!
- Bem, eu não tenho do que reclamar! A minha primeira vez foi... como eu poderia dizer... maravilhosa! Assim como você!
- Como eu disse: talento!
- Enzo! Você está impossível hoje! - disse Daniel rindo e, levantando-se da cama, disse: - Eu vou tomar banho!
- Quer companhia?
- Sempre! A sua companhia, é claro!
- Obviamente!

Quando os dois terminaram de tomar banho, já era hora do almoço, de modo que estes se dirigiram para a sala de jantar, onde Lucas e Pedro já estavam à mesa.

- Bom dia! Eu já estava me perguntando que horas vocês acordariam! - exclamou Pedro.
- Desculpa pai, nós não vimos o tempo passar ontem à noite e acabamos dormindo tarde!
- Está tudo bem, eu só não quero que vocês deixem de aproveitar este lindo dia! - respondeu Pedro, calmamente - Eu e o Lucas caminhamos um pouco pela propriedade e ele estava me contando as novidades em sua vida.
- Que bom - disse Daniel, imaginando que Lucas, provavelmente, havia omitido a terrível história que ele compartilhara com ele e Enzo, afinal aquele não seria o assunto mais adequado para o momento - Sobre o que conversavam agora, especificamente?
- Eu estava explicando ao seu pai o que um terapeuta ocupacional faz! O que, diga-se de passagem, é sempre algo muito difícil, já que a profissão é tão ampla!
- Que ótimo - disse Enzo - Eu adoraria ouvir isso! Eu me apaixonei pela profissão desde que fui atendido por um terapeuta ocupacional no Hospital das Clínicas de São Patrício!
- Você foi atendido pelo Yuri, certo? - perguntou Lucas.
- Sim, por que?
- Ele é simplesmente um dos melhores terapeutas ocupacionais em São Patrício! - disse Lucas, animado - Eu não o conheço pessoalmente, mas todas as pessoas com quem eu já conversei sobre ele elogiam imensamente o trabalho que ele faz! O Yuri é um profissional que realmente representa a Terapia Ocupacional!
- Nossa, eu sabia que o Yuri era maravilhoso! Mas não sabia que estava sendo atendido por um dos melhores da cidade!
- "Maravilhoso"? - perguntou Daniel.
- Cala a boca amor! - respondeu Enzo rindo - Você sabe o que eu quero dizer!
- Estou brincando amor! O cara é muito competente mesmo!
- Ele se formou na UFTU e foi um dos melhores alunos da turma dele! - Acrescentou Lucas - Ele até trabalhou nos Estados Unidos por um tempo!
- Bem, esse rapaz deve ser muito bom mesmo! - disse Pedro - Mas por que voltou para cá?
- Isso são só boatos, mas parece que ele tinha um companheiro nos Estados Unidos, o qual faleceu. Então, provavelmente, ele está tentando recomeçar no Brasil.
- Isso é tão triste! - disse Enzo - Eu não sabia que ele tinha perdido alguém e tampouco que ele também fosse gay! Deve ser por isso que ele foi tão gentil comigo e com o Daniel!
- Que bom que, pelo menos, ele está conseguindo continuar com o bom trabalho! - disse Pedro.
- Isso é verdade pai!
- Mas mudando de assunto - disse Enzo - Você pode recomeçar a explicar a Terapia Ocupacional Lucas?
- Claro! - respondeu Lucas - Primeiramente, o que você entende por "ocupação"?

Assim, Lucas explicou aos três o que um terapeuta ocupacional, com riqueza de detalhes e muita paixão em cada palavra.

- Lucas, você fala da sua futura profissão com tanta propriedade! - Apontou Pedro - Isso é muito bom! Você está fazendo o que você gosta!
- Eu quero ser um terapeuta ocupacional desde que me decidi a fazer faculdade! - respondeu Lucas.
- Os seus pais devem estar muito orgulhosos de você! - Acrescentou Pedro.
- Bem, eu não vivo há algum tempo com os meus pais Seu Pedro... - um silêncio desconfortável se instaurou ao redor da mesa.
- Desculpe, eu falei algo de errado? Algo aconteceu com eles? - Perguntou Pedro.
- Podemos não falar disso? Desculpe, mas eu não gosto de tocar no assunto - disse Lucas.
- Absolutamente! Eu peço desculpas!

Logo em seguida, Zuleica trouxe o almoço e os rapazes conversaram sobre outros assuntos, enquanto desfrutavam de uma excelente feijoada. Posteriormente, Pedro os convidou para passar a tarde na piscina.

- Você pode usar algumas boias poltronas que nós temos Enzo! - disse Daniel - Eu sei que você não vai querer ficar fora da água!
- Você me conhece muito bem! - respondeu Enzo - Eu só preciso trocar de roupa, então poderemos curtir este dia maravilhoso! E aproveitar o resto da luz do dia que ainda nos resta!
- Então nos vemos daqui a pouco na piscina! - disse Pedro.
- Eu também vou trocar de roupa e irei em alguns instantes - disse Lucas.
- Nossa, que tensa a história que o Lucas contou sobre o Yuri! - exclamou Enzo, o qual já estava no quarto, tentando vestir uma sunga - Você acha que isso é verdade?
- Eu não sei... mas, se for, eu não sei como ele consegue lidar com isso! - respondeu Daniel - Eu não sei o que eu faria se te perdesse!
- Eu também não! Eu entendo o porquê de ele ter voltado para o Brasil! Eu não ia aguentar ficar em um local repleto de lembranças da pessoa que eu amo! - disse Enzo.
- Eu entendo perfeitamente! Às vezes é difícil andar pela minha casa e ver os locais no qual eu costumava conversar com a minha mãe! - Daniel tinha uma expressão serena, mas um pesar estava presente em sua voz - Eu acho que é diferente da situação dele, mas eu entendo um pouco do que o Yuri está sentindo.
- Venha cá! - Enzo estendia os braços - Eu sinto muito por tocar nesse assunto, eu sou insensível mesmo!
- Não se desculpe - disse Daniel, abraçando Enzo - Eu estou bem amor! Eu estou muito mais resiliente em relação à perda da minha mãe!
- Eu fico feliz! - disse Enzo, com um sorriso no rosto.
- Agora, mudando de assunto, você precisa de ajuda para vestir isso? - disse Daniel, apontando para a sunga na mão do namorado.
- Eu consigo sozinho! Mas levaria mais tempo e eu também não posso recursar uma proposta envolvendo você tocando o meu corpo!
- Por que você acha que eu perguntei?! - respondeu Daniel, com um sorriso malicioso no rosto.

Alguns minutos depois, os dois apareceram na área da piscina e encontraram Pedro tomando sol.

- Por que demoraram tanto? O clima está ótimo!
- Está mesmo pai! Acho até que já vamos cair na piscina! - disse Daniel, o qual empurrava a cadeira de rodas de Enzo. Você já quer entrar amor?
- Sim! Vamos nessa! - Então eles entraram na piscina e Enzo abdicou da boia, pois queria ficar novamente em pé, com a ajuda de Daniel - É tão bom poder ficar assim novamente! Obrigado, meu amor!
- De nada amor! Isso não exige muito esforço já que a água faz o seu corpo parecer mais leve!
- Não somente por isso, mas por tudo que você tem feito por mim! - disse Enzo, olhando com uma feição serena para o namorado - Eu sei que você teve problemas na UFTU pelo tempo que passou no hospital comigo!
- Como você descobriu?! - exclamou Daniel.
- Amor... eu espero que você não se ofenda, mas você é péssimo em esconder segredos! O que eu amo, pois é difícil você esconder as coisas de mim, tipo um outro namorado!
- Não seja bobo! Eu nunca ia esconder o meu outro namorado de você! - disse Daniel, rindo.
- Como você ousa! - respondeu Enzo, rindo e empurrando o namorado.
- Mas, respondendo ao que você disse, eu não me importo de fazer nada do que eu tenha feito até agora por você! Eu faria muito mais, se necessário!
- Tem como não te amar?! - Enzo se inclinou e beijou o namorado.
- Obviamente não! - respondeu Daniel - Agora pare de me seduzir na frente do meu pai! - Completou ele rindo.

Posteriormente, Lucas apareceu e se juntou a eles na piscina, seguido de Pedro, o qual não queria ficar sozinho do lado de fora. Diversas conversas ocorreram enquanto eles permaneceram dentro da piscina, até que Pedro avisou que precisaria se ausentar para resolver alguns assuntos relacionados ao trabalho.

- Poxa, eu esqueci meu celular no quarto! - disse Daniel, alguns minutos depois que Pedro havia entrado na casa - Eu acabei de lembrar que alguns colegas de faculdade ficaram de ligar agora à tarde sobre um trabalho que nós precisamos entregar essa semana. Vocês se importam de esperarem aqui, enquanto eu vou lá buscar, rapidinho?
- Claro que não! - respondeu Enzo - Vá lá amor!
- Também não me importo, eu posso oferecer suporte se o Enzo precisar! - disse Lucas.
- Tudo bem, eu já volto!

Enquanto Daniel fora ao quarto buscar o celular, Lucas e Enzo conversaram sobre a experiência do futuro terapeuta ocupacional, o qual já estava cursando o sétimo semestre. Porém, após algum tempo decorrido, Enzo começou a estranhar o fato do namorado ainda não ter voltado e pediu para que Lucas o ajudasse a sair da piscina. O rapaz havia aproximado a cadeira de Enzo da piscina e o estava retirando da água, quando foi surpreendido por um barulho vindo do lado de dentro da casa, o que o assustou e o fez, sem querer, largar os braços de Enzo, o qual caiu novamente na piscina e bateu a cabeça quando atingiu o fundo. O golpe apenas deixou Enzo desorientado, mas ele conseguia ver através da água cristalina da piscina que a figura de Lucas não se moveu por algum tempo, mesmo ele sabendo que Enzo não poderia sair do fundo da piscina sozinho. O fôlego de Enzo logo começou a chegar no limite e o rapaz começou a se desesperar, porém, um pouco antes dele desmaiar pela falta de oxigênio, ele viu uma figura pular na piscina e, momentos depois, ele viu a face desesperada de Daniel olhando para ele, enquanto vigorosamente massageava o seu peito.

- Amor! Amor! - Daniel estava visivelmente desesperado e assustado enquanto o abraçava - Eu não sabia se você... Eu estava com tanto medo!
- Amor... - Enzo tentou falar e percebeu que o seu peito doía muito - O que aconteceu?
- Você caiu na piscina e bateu a cabeça! - disse Daniel, ainda muito alterado - Então eu pulei e te salvei! Mas você estava desacordado! Eu não sabia o que pensar!
- Foi tudo culpa minha!  - disse Lucas, entrando no campo de visão de Enzo - Eu me assustei com um barulho vindo de dentro da casa e acabei soltando o seu braço! Me desculpe!
- O que foi que aconteceu dentro da casa? - perguntou Enzo, com um tom de voz baixo e debilitado, devido à dor em seu peito. Enzo ignorou o pedido de desculpas de Lucas, pois lembrava do que havia visto antes de desmaiar.
- A Zuleica estava limpando a casa e acabou encontrando uma arma que pertence ao meu pai! - disse Daniel - Ela acabou disparando, sem querer, e ainda está muito assustada! A sorte é que eu estava a caminho daqui, então o Lucas me disse que você tinha acabado de cair na piscina! Você está bem?
- Não! - disse Enzo, o qual acabara de perceber que estava deitado no chã, o que não melhoraria a dor que estava sentindo no peito - Você pode me levar para dentro? Eu preciso deitar!

Enzo foi levado até o quarto e Daniel o acomodou confortavelmente na cama, antes de dizer:

- Amor, eu preciso ver como a Zuleica está! Mas eu já volto!
- Tudo bem amor! - disse Enzo, ainda sentindo uma forte dor no peito.

Enzo tentou resistir, mas acabou adormecendo enquanto esperava Daniel. Porém, antes disso, ele refletira sobre o que ele havia visto enquanto estava na piscina: Lucas havia claramente pensado que ele desmaiara quando atingiu o fundo da piscina e mesmo assim não oferecera qualquer ajuda. Ele queria estar enganado, mas a imagem distorcida de Lucas parada na beira da piscina, sem mover qualquer músculo para ajudá-lo, não saía da sua cabeça. Por outro lado, ele estava agradecido por estar vivo. O que ele deveria fazer com aquela cena de Lucas martelando em sua cabeça? Com essa questão em mente, Enzo adormeceu, após um dia no qual ele quase havia perdido a vida.

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