sábado, 31 de outubro de 2015

Capítulo 6 - Revolução: Pasine (Cont.)

- Conde Rafael, o desequilíbrio nos fluidos corporais que fazem este rapaz gostar de ter relações com outros homens deveria ter sido curado com apenas uma dose! Mas pelo visto eu vou ter que aplicar uma dose extra! Isso é muito perigoso e pode matá-lo! Tem certeza de que eu devo prosseguir?
- Não seja imbecil! É claro que eu estou certo disso! Não me importa o que isso vai custar, o que me interessa é que este indivíduo seja curado! Você também não quer isso sobrinho? Ver-se livre desta doença?
- Que seja...
- Não seja insolente e ingrato! Eu estou lhe fazendo um favor!
- Obrigado tio...
- Assim está melhor! Pois bem, venha amanhã para realizar o procedimento! Não precisamos mais esperar!
- Sim Conde Rafael!

Assim, o meu tio saiu do quarto e eu pude voltar a fazer o que estive fazendo durante os últimos dias: dormir. Depois da traição de Bernardo, eu não me importava com nada que acontecia ao meu redor, não me alimentava adequadamente e estava resignado em permanecer trancafiado no meu quarto e atado à minha cama pelo resto da minha vida. O meu tio insistiu que a segunda dose da minha cura fosse ministrada o mais breve possível, mas Walter o aconselhou a esperar alguns dias. Agora, a data tinha sido marcada. Talvez eu pudesse morrer e o pior de tudo é que eu não me importava.
Rafael II havia me visitado várias vezes durante aqueles dias e eu sempre fingia que estava dormindo, porém neste dia havia sido diferente.

- Olá primo sujo, até que enfim você está acordado!
- Rafael, se você não sair daqui agora, eu vou contar ao Conde o seu segredinho!
- Do que você está falando?
- Não pense que eu não sei o porquê de tanta raiva e o motivo de você vir todos os dias ao meu quarto!
- O que você pensa que sabe?
- Parece que o filho do grande Conde Rafael está tão doente quanto eu!
- Como ousa!

Rafael desferiu um soco que atingiu o lado esquerdo do meu rosto em cheio. Porém, a dor não me incomodava havia muito tempo.

- Não adianta me bater ou negar! O que você sente não vai mudar!
- Eu... Eu não sei do que você está falando! Mas se meu pai ouvir isso ele vai te matar! Ele nunca acreditaria em tamanha mentira!
- Eu não me importo! Isso despertaria alguma suspeita! Eu não tenho nada a perder, então sai daqui, se quiser evitar problemas desnecessários!
- Pois bem, eu não quero passar nem mais um minuto perto de você de qualquer modo!
- Ah não?! Então por que você tem vindo aqui? O que você quer de mim?
- Eu... Eu não entendo o que causa isso...
- Não precisa haver um motivo! Não há nada errado! Essa história de doença é uma invenção do seu pai!
- Se isso não é uma doença, então como você explica o seu "noivo"? Ele está curado!
- Sai daqui!
- Mas você não respondeu...
- AGORA! SAIA!

Eu não suportava ouvir falar do Bernardo. A simples menção do nome era como um soco no estômago! Eu me sentia sem ar e uma forte dor se instalava no meu abdômen. Depois que Rafael saiu, eu achei que poderia finalmente dormir, mas estava enganado.

- ... Já que você insiste! Aqui está ele!
- Vejo que ele ainda está bastante debilitado! Tem certeza de que ele está pronto para a segunda dose?
- Sinceramente, eu não acho que ele vá melhorar muito! Ele se recusa a comer adequadamente! Se o pior acontecer, eu não acho que será de todo mal!
- Entendo! Talvez o senhor tenha razão!
- Mas é claro que sim! Mas voltando à nossa conversa, eu precisarei visitar o Conde Gil e...

Eles saíram do quarto sem me dirigir qualquer palavra. Eu não podia evitar de, bem no fundo, esperar que Bernardo tivesse algum plano e estivesse fingindo tudo aquilo, mas a cada dia as minhas esperanças eram dizimadas. Para a minha surpresa, as visitas daquele dia ainda não tinham se encerrado.

- Oi primo... É verdade que você tá doente?
- Um pouco Davi! Mas eu vou ficar bem!
- Eu ouvi uma coisa ruim... eu fiquei triste!
- O que foi que você ouviu Davi?
- Papai disse que você pode morrer! Mas eu não quero que você vá embora! Eu nunca tive um primo e papai nunca me deixa ver você!
- O seu pai... ele sempre foi assim?
- Chato?

A sinceridade infantil sempre me encantou. Eu nunca tive irmãos, mas eu sempre adorei brincar com as crianças de Heliópolis! Elas sempre me convidavam para me reunir a elas e nunca havia qualquer tipo de interesse secundário.

- Sim! Ele sempre foi rígido desse jeito?
- Que eu me lembre sim! Meu pai nunca brinca comigo! O meu irmão também não!
- Eu sinto muito Davi! Eu queria poder brincar com você! Mas o seu pai acha que eu tenho uma doença contagiosa!
- E você tem?
- Não! Mas o seu pai acha que sim, então eu não posso chegar perto de você!
- O que ele acha que você tem?
- Eu amo... ou melhor, amava um rapaz! O seu pai acha que isso é errado!
- Como ele se chama?
- Bernardo...

Novamente, aquele nome me fez sentir doente. Coincidentemente, o meu ex-amor adentrou o quarto companhado de dois servos.

- Davi! O que você está fazendo aqui?
- Eu... Eu queria ver o meu primo!
- Você sabe que o seu pai não quer que você venha aqui! Você, acompanhe ele até o quarto e se certifique de que ele não saia de lá! Desculpe Davi, isso é para o seu próprio bem!
- Sim senhor!

Um dos servos que acompanhavam Bernardo conduziu Davi para fora do meu quarto. Mas quando passava pela porta, o meu pequeno primo disse:

- Tchau primo! Desculpe não poder ficar com você! Espero que você fique bem!
- Obrigado Davi! Você é muito gentil!
- Você sabe que não deve chegar perto dos filhos de Conde Rafael!
- Sim...
- Você ainda não me perdoou, certo? O que eu fiz foi para o seu próprio bem!
- Eu não me importo!
- Você não precisa! Eu tenho certeza que entenderá tudo o que eu fiz no futuro!
- Senhor, está tudo pronto!
- Muito bem. Está na hora do seu banho! Espero que isso te relaxe um pouco!

O servo que restava havia enchido uma tina com água para que eu pudesse tomar banho.

- Não há nada nesse castelo que possa me relaxar!
- Tudo bem, então apenas tome banho, porque você está horrível!
- Bem, esse sou eu! Agora, que tal você sair do quarto para que eu possa me despir!
- Não há nada que eu, infelizmente, já não tenha visto! Além disso, estamos entre homens aqui!
- Pode ser! Mas eu não o quero aqui! Então saia!
- Se é assim que prefere! Eu vou sair, mas você servo deve tomar cuidado para não ser seduzido! Não esqueça que ele ainda está doente!
- Sim senhor! Eu serei cuidadoso!

Assim que Bernardo saiu, eu me despi e o servo designado me ajudou a entrar na tina. Ele deveria me ajudar durante o processo de banho, mas eu recusei e mandei que ele apenas me ajudasse a sair quando eu tivesse terminado.

- Senhor, tem certeza de que não precisa de ajuda?
- Não, você pode apenas observar, já que isso é necessário, mas eu não quero a sua ajuda!
- Mas eu posso ter problemas se lhe deixar fazer isso sozinho! Esse é o meu trabalho!
- Não se preocupe, eu direi ao Bernardo que você fez o seu trabalho! Apenas me deixe fazer isso sozinho!
- Bem... obrigado senhor! Eu lamento que o senhor esteja passando por tudo isso!
- Obrigado! Você é a primeira pessoa que se sente desse jeito nesse lugar!
- Senhor... eu posso perguntar algo?
- É claro... desde que não seja um insulto!
- O senhor não acredita na cura, certo?
- Bem, eu não estaria nessa situação se acreditasse, certo?
- Por que o senhor insiste em mostrar que a cura não funciona?
- Porque eu quero mostrar que o Conde está errado!
- Mas isso pode afetar muitas vidas!
- O que você quer dizer?!
- O senhor tem ideia de quantas pessoas nesse reino foram "curadas"? Se o senhor continuar mostrando que a cura não funciona, a "sanidade" de muitas pessoas será questionada!
- Espera... então ainda há homossexuais neste reino? Eu pensei que o Conde tinha matado todos em suas caçadas!
- O Conde não mata ninguém do seu próprio reino! Ele se orgulha em dizer que todos os "doentes" do seu reino foram curados! Mas caça os homossexuais de outros reinos como uma forma de diversão e de humilhar os reinos nos quais os homossexuais foram identificados!
- Meu Deus! Então eu estou pondo as pessoas deste reino em risco! Eu... eu não sabia!
- Eu lamento ter que pedir isso, mas se o senhor sobreviver ao procedimento de amanhã, finja que está curado! Ou todos nós estaremos em risco!
- Espera, "nós"? Então você...
- Sim senhor! Eu e meu companheiro fomos apanhados nas dependências do castelo e submetidos à cura!
- O que aconteceu com ele?
- Eu me submeti à cura, mas ele me chamou de covarde e não quis! Ele foi trancafiado no calabouço, mas adoeceu e acabou falecendo há algumas semanas!
- Eu sinto muito por isso! E eu não quero ser insensível, mas se as pessoas não se submetessem a essa ideia de "cura", ninguém precisaria fugir e se esconder por ser homossexual! Eu não sei de onde o meu tio tirou essa ideia!
- Eu concordo senhor... eu só aceitei me submeter a isso porque pensei que o meu companheiro também aceitaria e, assim, poderíamos ter tempo de planejar uma fuga do reino! Mas eu estava errado... De qualquer modo, o senhor ficará surpreso em saber que a "cura" começou com o filho do Conde! Ele foi o primeiro "curado"!
- Então é isso! Eu estava certo! Ele nunca foi curado! Você nunca foi curado! A cura não existe! Mas o Bernardo...
- Eu também não entendo... Mas eu preciso dizer que a "cura" fez bem a ele! Ele é o segundo em comando no reino! O Conde acredita muito na "cura", pois acredita que o filho esteja curado! Desse modo, ele também acredita que o Bernardo esteja curado e por isso o exibe como um troféu para os outros reinos! O fato do Bernardo ter entregue o próprio ex-noivo também aumentou a estima do Conde pelo Bernardo!
- Será... será que ele tem um plano?
- Eu não sei dizer! Mas eu espero que dê tudo certo para o senhor! Quando eu pedi para que "aceite" a cura, eu estava pensando no bem de todos nesse reino, mas eu admiro a sua coragem em lutar pelo que acredita!
- Obrigado por ter me contado essas coisas! Elas me fizeram entender o contexto em que vocês estão! Eu peço desculpas se eu prejudiquei alguém!
- Não precisa se desculpar! Apenas faça o que eu disse, por favor!
- Só mais uma coisa, como foi que o Conde descobriu sobre o Rafael II?
- O senhor Rafael II se apaixonou por um visitante de outro reino! Foi paixão à primeira vista e os dois se visitavam com frequência! Na verdade era muito mais frequente que Rafael fosse a Naquim!
- O namorado do Rafael era de Naquim?
- Sim! E, na verdade, eles foram casados! O filho do Conde até se mudou para um vilarejo chamado Gorgi, o qual era muito receptivo aos homossexuais e sempre realizava casamentos desse tipo. Eu e meu companheiro planejávamos ir até lá para nos casarmos antes de sermos apanhados!
- Eu sinto muito que isso não tenha se concretizado! Isso é estranho, muitos dos meus companheiros são sobreviventes do massacre ocorrido em Gorgi! Eu jamais imaginava que o filho do Conde pudesse ter qualquer relação com esse vilarejo!
- Na verdade, o filho do Conde é a causa do massacre!
- O que você quer dizer? O que o Rafael tem a ver com o massacre de Gorgi!
- Quando o Conde descobriu o porquê de Rafael ter se mudado para Gorgi e o estilo de vida que ele estava levando lá, um exército foi direcionado para a cidade, com o objetivo de exterminar uma doença que estava se alastrando por toda a cidade e havia infectado o seu filho! Por isso tantas pessoas morreram e foi assim que as "caçadas" e a "cura" começaram!
- Eu não sabia disso! Mas o que aconteceu com o marido do Rafael?
- Ele foi a primeira pessoa a ser caçada! O ódio que o Conde sentia por ele era tão intenso que ele não se conformou em apenas mata-lo, ele precisava torturá-lo e fazê-lo sofrer! Depois disso, o senhor Rafael II foi submetido à avaliação por diversas pessoas, as quais deveriam descobrir o que havia de errado com ele! Foi nesse momento que o senhor Walter propôs a cura através das sanguessugas! O senhor Rafael se submeteu a isso e se tornou a primeira pessoa a ser "curada"! Como você pode ver, tudo isso teve início com o filho do Conde!
- Então Rafael é a causa de tudo! Mas por que ele ficou tão perverso?
- Não seja tão duro com ele! O filho do Conde sempre foi um menino muito bom, por incrível que pareça! Ele tinha um coração de ouro, mas depois da "cura" ele se tornou amargo e sombrio! Ele esteve presente em cada uma das caçadas de Conde Rafael e torturou várias das pessoas dessa cidade até que elas aceitassem se submeter ao procedimento.
- Mas ele está traindo o seu próprio grupo! Ele está matando as pessoas que o acolheram!
- Veja bem senhor, quando as pessoas ouvem falar do massacre de Gorgi elas ficam horrorizadas e tristes. Imagine o que o senhor Rafael sente já que ele estava lá e tecnicamente foi a causa de tudo! Isso pode enlouquecer alguém!
- Eu entendo... Mas eu não sei como ajudá-lo!

Nesse momento, Rafael adentrou o quarto.

- O que você está fazendo servo? Não deveria estar ajudando o meu primo a tomar banho?
- Ele já me ajudou bastante! Eu solicitei que ele me deixasse algum tempo na tina, pois isso me relaxa!
- Sim meu senhor! Foi isso que aconteceu!
- Não importa, eu preciso que você saia! Eu quero conversar a sós com o meu primo!
- Mas senhor... eu recebi ordens diretas do senhor Bernardo para que não saísse desse quarto!
- Não precisa sair! Fique!
- Bernardo é apenas um encarregado! As minhas ordens são superiores, afinal eu sou o filho do Conde Rafael!
- Sim senhor...
- Ele já foi! O que você quer Rafael? Eu já disse que não quer conversar se você vai ser rude comigo!
- Eu posso tentar ser menos rude... Mas não posso prometer nada!
- O que você quer comigo?
- Eu quero pedir para que você pare de ser inconsequente!
- O que você quer dizer?!
- Pare de ser resistente ao tratamento! Finja que ele funciona!
- Então você admite que ele não funciona?!
- Eu não admito nada! Mas já que ele não está funcionando em você, talvez o meu pai comece a questionar o funcionamento em outras pessoas e isso vai criar um alvoroço desnecessário!
- Tudo bem!
- Tudo bem o que? Você vai fazer isso?
- Sim! Eu vou fingir que isso funciona!
- Ótimo! Era isso que eu queria! Agora eu vou te deixar em paz!
- Espera, eu tenho uma pergunta!
- O que foi? Seja breve!
- Por que você me odeia tanto? A gente mal se conhece! Por que você odeia tanto os homossexuais?
- Porque esse estilo de vida só causa dor e sofrimento! Isso é errado e as pessoas deveriam saber que disso! Quando as pessoas se recusam a aceitar que isso está errado, ou eu as convenço a se submeter ao tratamento para serem curadas ou elas tem que ser punidas!
- Quem é você para decidir isso? Quem te deu esse direito?
- A vida! E o meu pai!
- Mas você não sente mais nada?
- O que você quer dizer?
- Olha, vamos acabar com esse fingimento! Eu sei que você sente algo diferente por pessoas do mesmo sexo, assim como eu! Mas, por algum motivo, você se recusa a admitir isso! Então eu quero saber se você não sente mais nada ou se é só fingimento!
- Muito bem! Eu não preciso te dizer nada, mas eu quero que você acabe com essas insinuações antes que o meu pai volte de viagem, então lá vai!

Rafael me contou uma versão condensada da história que eu ouvira anteriormente. Eu não podia dar sinais de que já sabia da história ou colocaria rapaz que me contara em perigo. No fim, Rafael afirmou que havia sido curado.

- Como você pode ver, eu já fui como você! Mas hoje em dia eu ajudo as pessoas a enxergarem a luz!
- Você está levando as pessoas para as trevas! Ou melhor, para as sombras, já que as pessoas agora precisam se esconder e fingir que essa tal cura funciona.
- A cura funciona! Eu sou a prova viva disso!
- Você é somente alguém que já sofreu muito! Eu reconheço isso! Mas isso não te dá o direito de fazer as atrocidades que você faz com as pessoas!
- Cale a boca! Você não sabe de nada!

Nesse momento, Bernardo adentrou o quarto, acompanhado do servo que me ajudara com o banho.

- ... deveria ter ficado no quarto, como eu pedi!
- Mas o senhor Rafael me disse que...
- Sim Bernardo, fui eu quem o mandou sair do quarto! Eu precisava conversar com o meu primo!
- Rafael, o Conde recomendou que você e o seu irmão não entrassem nesse quarto! Portanto, eu preciso pedir que você se retire!
- Muito cuidado como fala comigo Bernardo! Não se esqueça de quem eu sou!
- Eu peço isso com todo respeito, meu senhor! Afinal, foi isso que o Conde recomendou! Eu estou apenas fazendo o meu trabalho!
- Assim está melhor! De qualquer modo, eu já terminei o que tinha vindo fazer aqui! Com licença!
- Obrigado senhor! Até mais!
- Até mais primo!
- Pare de tentar seduzi-lo! Isso só vai piorar a situação!
- O que foi Bernardo, você está com ciúmes? Não se preocupe, eu não estou seduzindo ninguém! Eu sou fiel aos meus sentimentos, mas você não entende esse conceito, certo?
- Não me aborreça com as suas acusações! Quantas vezes eu tenho que repetir que eu não sinto nada por você?! Além de pena, é claro! Agora saia da tina, você já teve bastante tempo para tomar banho!
- Não! Eu saio daqui quando eu estiver pronto!
- Eu acho que não!

Eu fui surpreendido por Bernardo envolvendo os braços ao meu redor e me retirando à força da tina. Eu ofereci resistência e lutei para me libertar dos seus braços, mas ele sempre fora mais forte do que eu! Ele me colocou, ainda molhado, na cama e eu não consegui me conter: comecei a chorar, talvez pela surpresa de ter Bernardo me tocando de uma forma tão agressiva, como eu nunca imaginara o ver fazer.

- Servo, retire a tina daqui! Depois disso você está dispensado!
- Sim senhor!

Quando o servo saiu do quarto, eu ainda estava chorando, mas escondia minha lágrimas com os cobertores. Parecia que tudo o que eu estava vivendo fora resumido por aquele momento e eu não conseguia controlar o meu choro.

- Você precisa aceitar que tudo mudou! Isso vai te causar menos sofrimento!
- Me deixe em paz! Você já fez o bastante!
- Como queira...

Quando Bernardo deixou o quarto, eu poderia jurar que vi uma lágrima escorrer pela sua face, mas eu não me atrevi a acreditar. Afinal, ele havia demonstrado que realmente não havia mais nada entre nós, além de uma relação estranha em que ele trabalha para o meu tio e, nesse momento, está encarregado de me preparar para a "cura".
Naquele dia, eu não recebi nenhuma outra visita, então acabei dormindo muito cedo. Não havia qualquer prazer no meu dia-a-dia, então a minha atividade favorita era dormir.
Porém, naquela noite eu acordei com o barulho de pessoas gritando e, de repente, um homem encapuzado entrou no quarto, acompanhado de outros três homens, cujos rosto eu não conseguia ver. Eles se aproximaram da minha cama e eu tentei, sem efeito, lutar, mas eles estavam em maior número e eram, aparentemente, mais fortes do que eu. Além disso, eu estava enfraquecido pela falta de alimentação. Depois de algum tempo resistindo, eu estava exausto e a ponto de desmaiar, então eles conseguiram me amarrar e colocaram uma mordaça em minha boca. Depois, conduziram-me pelos corredores do castelo e, mesmo que eu quisesse, eu não conseguia me debater ou espernear. Enquanto percorríamos os corredores, eu vi várias pessoas desacordadas e algumas outras lutando contra inimigos que eu não conseguia discernir. Aparentemente, Pasine estava sendo saqueada e eu estava sendo levado como refém. Mas o que eu não entendia é como aquilo havia acontecido e onde estava o Conde Rafael.
Finalmente, os homens saíram do castelo e eu reparei que haviam muito mais gente lutando lá fora também. Enquanto isso, os homens que me carregavam se dirigiram a uma carroça e me puseram lá. Três deles voltaram para dentro do castelo, incluindo o homem encapuzado, mas um deles ficou comigo na carroça. Eu estava bastante enfraquecido e levou algum tempo até que eu conseguisse focar no rosto da pessoa que estava comigo e reconhecesse de quem se tratava:

- William!
- Oi irmãozinho! Quanto tempo hein!
- Onde estão os outros?! Onde está o Tomás?
- Calma! Nós vamos te explicar tudo! Mas agora precisamos correr, afinal o conde vai estar aqui em breve!
- O Conde não está aqui? Onde ele está?
- Ele foi a outro reino e nós aproveitamos para te resgatar! Mas precisamos sair agora! Enquanto isso, há alguém que quer conversar com você! Espere aqui!

- Assim, William me deixou na carroça e entrou novamente no castelo. Eu estava tão debilitado que caí no sono novamente e, quando acordei, deparei-me com a figura de Bernardo me fitando.

- William! William! Socorro!
- Calma! Eu...
- William! Me ajude!

Eu queria correr, mas o meu corpo não respondia aos meus comando, então eu somente me arrastava para longe de Bernardo. Porém, ele subiu na carroça e me surpreendeu ao me beijar, do jeito que somente ele conseguia tocar os meus lábios e em uma intensidade me fazia perder o ar. Ele usava o capuz que eu reconheci como sendo do homem que me tirara do castelo anteriormente. Eu não sabia se aquilo era real, mas me deixei envolver pelo momento. Logo depois, ele me abraçou e nós deitamos. Ele envolvia o meu corpo e, finalmente, em muito tempo eu me senti seguro e relaxado novamente. Nós não dissemos nada, pois não havia necessidade. Tudo o que precisava ser dito, foi transmitido através dos nossos corpos juntos novamente. Com Bernardo me abraçando, eu adormeci novamente.
Quando eu acordei, eu não o vi mais e achei que tivesse sido um sonho. Porém, ao meu lado, estava o capuz que Bernardo tinha usado quando fora ao meu quarto, então eu soube que era real. Ao meu lado estavam outras pessoas, incluindo Raul e William, aos quais eu indaguei:

- Onde está o Bernardo?

Os dois trocaram olhares e eu percebi que algo estava errado. Então William respondeu:

- Ele pediu para dizer que te ama! Ele não disse nada ontem porque sabia que você não concordaria com esse plano...
- Qual plano?
- Felipe, o Bernardo ficou em Pasine!

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