quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Capítulo 3 - Gelo e Fogo (Cont.)

Oliver caiu de joelhos no chão, estendeu os braços e bradou novamente. De repente, uma espessa massa de ar começou a emanar das mãos do elemental do gelo e as paredes ao redor da caverna começaram a congelar. Então o elemental, chorando, inclinou-se em direção ao chão e lá permaneceu, praticamente imóvel. Porém, sem que ele percebesse a massa de ar criada havia se alastrado pelos corredores da caverna.
Enquanto isso, Gabriela continuava andando pelo túnel a frente de onde ela havia deixado Oliver e Alba, sem ter qualquer ciência do que havia acontecido:

- Eu não aguento mais - disse a elemental, enquanto sentava no meio do túnel - Está muito quente e eu estou desidratando cada vez mais rápido! Talvez eu devesse conservar energia para quando o Oliver e a Alba me alcançarem! - De repente, a elemental foi surpreendida pelo congelamento das paredes ao seu redor - O que é isso? Oliver? É você quem está fazendo isso? - sem respostas, a elemental resolveu olhar as paredes mais de perto e foi surpreendida pela seguinte inscrição, que até poucos segundos atrás não estava lá: prope est tu dēstinātiōnem. Além destas palavras, as quais Gabriela não conseguia compreender, haviam setas que seguiam pelo túnel e apontavam para a direção de onde a elemental tinha vindo - Bem, acho que está na hora de ver como estão Oliver e Alba.

Em outro ponto da caverna, Ethan também havia notado o mesmo fenômeno que Gabriela, porém, diferente da elemental das plantas, ele conseguia entender as inscrições nas paredes.

Haec via est longa quer dizer este caminho é longo, então quer dizer que pelo menos estou no caminho certo! Mas como isto apareceu aqui? Não havia nada nas paredes da caverna por todo o caminho que eu andei, mas agora elas estão repletas de símbolos e frases! Oliver... - o elemental respirou profundamente, então continuou: - espero que você esteja bem! Obrigado por isto, seja lá o que você tenha feito! - Assim, o elemental do fogo também seguiu caminhando pela caverna.

Oliver permanecera na mesma posição por vários minutos, até que ouviu passos vindo do túnel a frente e, prontamente, posicionou-se em guarda.

- Quem está vindo? - O elemental do gelo atirou diversas estacas de gelo em direção ao túnel.
- Oli! Sou eu! - gritou Gabriela.
- Gabi! - Oliver correu para abraçar a elemental das plantas, mas parou no meio do caminho ao se lembrar de que não possuía corpo físico para isso - Que bom que você está bem! Mas o que você está fazendo aqui? Pensei que estava a vários metros a minha frente!
- Bem, eu realmente estava! Mas aparentemente o caminho é nesta direção - disse Gabriela, apontando para o túnel atrás de Oliver.
- Como você sabe disso?
- O que você quer dizer? Não foi você quem descobriu uma maneira de revelar frase e símbolos nas paredes da caverna?
- Eu não... - o elemental foi interrompido pelo próprio sentimento de surpresa ao olhar para as paredes da caverna e notar, pela primeira vez, que haviam símbolos nas paredes - O que é isso? Eu não me lembro de ter feito isso!
- Mas e todo esse gelo nas paredes? - perguntou Gabriela - Você não o atirou nas paredes de propósito?
- Não, eu usei os meus poderes quando...
- Quando o que Oli?
- A Alba... - lágrimas escorriam dos olhos de Oliver novamente - A Alba se sacrificou Gabi! Ela... Ela se foi!
- O que?! Não! A Alba não... Ela... Meu deus!
- Foi tudo minha culpa! - disse Oliver ainda chorando - Eu não fui forte o suficiente!
- Não diga isso Oli! Eu tenho certeza que você deu o seu melhor! Mas aquela criatura é muito forte! - disse Gabriela, desejando poder abraçar o amigo para poder confortá-lo - Ouça, eu acho que deveríamos descobrir como sair dessa caverna! Era isso o que a Alba iria querer e eu tenho certeza que ela se sacrificou para que nós tivéssemos uma chance de sair daqui!
- Você está certa Gabi! - respondeu Oliver, enxugando as lágrimas - Vamos sair desse lugar e aproveitar que a criatura não está no nosso caminho!

Desse modo, os jovens elementais começaram a seguir as setas que os guiavam pelos túneis da caverna. Porém, Gabriela e Oliver acabaram voltando para o rio de lava que eles haviam atravessado e não sabiam o que fazer a seguir, pois não compreendiam as inscrições nas paredes e as setas o levavam somente até este ponto.

- Vocês não vão gostar do próximo passo! - disse Ethan ao chegar ao mesmo ponto onde os outros elementais estavam.
- Ethan! - exclamou Oliver, genuinamente, feliz de ver o elemental do fogo - O que você está fazendo de volta aqui?
- Ué, eu segui as setas assim como vocês! Você não gostou de me ver novamente?
- É claro que eu gostei, eu queria poder te beijar... digo, te abraçar agora! Mas não posso!
- Eu também gostaria de poder fazer qualquer um dos dois agora! Pena que não podemos nesse estado!
- Vocês poderão fazer isso em breve! - disse Gabriela - Mas, mudando de assunto, como você sabe qual é a próxima etapa?
- Porque está escrito nas paredes! Aqui diz natare ad inveniet - disse Ethan apontando para uma breve inscrição na parede da caverna - Isso quer dizer algo como nadar para encontrar. Eu acho que teremos que mergulhar no rio de lava!
- Ethan, mesmo que isso seja verdade, eu não poderei ir ou então morrerei! O fogo vai queimar ou até mesmo ressecar o meu corpo!
- Quanto a mim, eu vou simplesmente derreter!
- Eu sei! Mas eu não acho que deva fazer isso sozinho! Preciso de vocês comigo! - respondeu Ethan e, aproximando-se da borda do rio, disse: - Apenas confiem em mim, eu acho que sei o que fazer - então ele pulou no rio de lava.
- Ethan! - gritou Oliver ao ver o elemental do fogo pular em direção ao rio de lava.
- Não se preocupe Oli! Não é a primeira vez que faço isso - disse Ethan, o qual estava complemente misturado à lava - Além disso, é muito mais fácil fazer isso sem ter que me preocupar com a minha integridade física! Ouçam, eu vou tentar algo novo e preciso que vocês fiquem muito atentos ao meu próximo comando, porque não sei quanto tempo eu serei capaz de aguentar!
- Tudo bem, mas o que você vai fazer?
- Primeiramente, procurar o que, segundo as inscrições na caverna, nós devemos encontrar nesse rio de lava - Assim, o elemental passou alguns minutos procurando algo que ele ainda não sabia o que era, até que ele emergiu da lava e disse: - Encontrei!
- O que você encontrou Ethan?!
- Esse rio segue mais alguns metros neste nível até que se torna uma grande cachoeira que leva a um nível mais baixo da caverna. Do lado oposto à queda da cachoeira há uma passagem como a que vocês estão agora, a qual eu imagino ser a continuação da nossa jornada até o local onde encontraremos o que buscamos.
- Mas como chegaremos lá?!
- Prestem muita atenção! Eu vou conter o fluxo do rio para que vocês possam correr até o local onde a passagem está! Quando vocês chegarem ao local onde o rio vira uma cachoeira, eu preciso que você construa uma ponte até a passagem, tudo bem Oliver?
- Eu acho que posso fazer isso!
- Excelente! Eu confio em você! - disse Ethan - Agora eu preciso que vocês sejam muito velozes, porque eu nunca tentei conter uma quantidade de lava tão grande! - Então o elemental do fogo se posicionou no centro do rio e disse: - Barreira! - Uma barreira foi criada em frente a Ethan e o chão se tornou visível em toda a extensão do rio atrás do elemental do fogo - Corram! Agora!
 - Imediatamente, Gabriela e Oliver correram em direção ao fim do rio.
- Ponte de gelo! - gritou Oliver, assim que os dois chegaram ao precipício onde a cachoeira de lava deveria estar. Assim, uma ponte se formou e conectou o precipício à passagem que Ethan havia mencionado. Os dois elementais tinham acabado de pisar na passagem quando viram o grande volume de lava que voltara a cair no precipício e destruíra a ponte criada por Oliver.
- Ethan! Onde está você? Está tudo bem? - Gritou Gabriela, preocupada.
- Eu estou bem! Preciso apenas descobrir como chegar aí em cima - disse Ethan, enquanto nadava no rio de lava do nível inferior ao qual estavam Gabriela e Oliver -  Eu vou tentar combustar! - Assim, o elemental explodiu e, em poucos segundo estava ao lado dos outros elementais - Pronto!
- O que foi isso?! - exclamou Oliver, perplexo.
- Isso se chama combustar e é uma técnica que Flamus me ensinou antes de desaparecer!
- Por um momento eu achei que você tivesse desaparecido!
- Eu também! Isso foi assustador!
- Não se preocupe Oli! Eu não vou te deixar tão cedo!
- Isso é bom! Eu realmente queria poder te abraçar agora! - disse Oliver, um pouco corado - Mas acho que vou ter que esperar até termos nossos corpos de volta! Até lá você vai ter...
- Que ficar longe de vocês - completou Ethan - Eu sei! Vocês podem ir na frente, afinal você é quem sabe como revelar as inscrições nas paredes da caverna!
- Bem, na verdade eu tenho apenas uma ideia, já que eu fiz isso sem querer da primeira vez! - disse Oliver enquanto caminhava para dentro o túnel - Tempestade de Gelo! - Assim que o elemental pronunciou as palavras, uma massa branca se ergueu no ar e se afixou às paredes e, em poucos segundos, o túnel estava coberto de gelo e diversas inscrições e símbolos podiam ser vistos nas paredes.
- Ali! As paredes estão cheias de palavras! - exclamou Gabriela - Você pode ler Ethan?
- Sim! Deixe-me ver - respondeu o elemental do fogo - Isto é uma história sobre o surgimento de Flamus, ouçam: Neste local nasceu o segundo filho de Uni e Omni. Seu nome era Flamus, o tigre de fogo. Ele pode adotar várias formas, mas neste local ele somente existe em sua forma original. Os seus filhos falam a linguagem criada por Flamus. Somente eles podem dar o merecido descanso ao tigre de fogo e somente eles podem despertá-lo usando esta linguagem. Quando descansando em sua forma original, o tigre de fogo é protegido por seus leais escudeiros, os quais não medem esforços para punir os invasores deste santuário. Para despertá-lo, um de seus filhos deve proferir as seguintes palavras: acorde tigre de fogo. Para fazê-lo dormir, um de seus filhos deve proferir as seguintes palavras: descanse em paz.
- Então é por isso que estamos sendo atacados? Aquela criatura acha que nós somos invasores!
- Bem, tecnicamente nós somos invasores! Mesmo que as nossas intenções sejam boas! - Pontuou o elemental do gelo - Ethan, que linguagem é essa?
- Na verdade eu não sei, mas eu imagino que seja latim!
- Por que você nunca mencionou que sabe ler latim?
- Porque eu não sabia! Mas aparentemente eu passei a saber no momento em que eu adentrei esta caverna! Deve ser algum tipo de poder que faz parte da nossa natureza elemental! Nós sabemos as linguagens dos nossos elementais e eu imagino que eu seja um dos "filhos" de Flamus mencionados neste texto!
- Então você pode acordar o Flamus se pronunciar aquelas palavras em latim?!
- Eu espero que sim! Mas eu acho melhor nós voltarmos a andar, porque eu não gostei nem um pouco do modo como este texto se refere aos escudeiros de Flamus no plural!
- Então você acha que existem mais criaturas como aquela que nós enfrentamos?
- Eu temo que sim! E eu não quero ficar aqui esperando alguma delas nos encontrar! Vamos continuar a nossa procura pelo local onde Flamus está "descansando"! - disse Ethan determinado. Porém, lembrando-se de algo, acrescentou: - Na correria eu esqueci de perguntar onde está a Alba! Ela não vem conosco?
- Ethan... Eu preciso te contar uma coisa...

Depois que Oliver terminou de contar a sequência de fatos que desencadeou o sacrifício de Alba, Ethan disse:

- A Alba sempre foi muito corajosa! E nós devemos honrar o sacrifício dela! Vamos terminar o que viemos fazes nesse local!
- Sim! Nós estamos cada vez mais perto de conseguir sair desse lugar! Graças ao sacrifício da Alba e ao Oliver que descobriu como revelar as inscrições nas paredes da caverna!
- Eu só tive sorte! Mas fico feliz de poder ser útil! - disse o elemental do gelo - Agora vamos andando, antes que nós tenhamos que enfrentar outra daquelas criaturas! Vá na frente Ethan, afinal você é que sabe ler as inscrições! Além disso, não posso ficar nem mais um minuto tão perto de você ou vou me desfazer em água!

Enquanto isso, em outro lugar da caverna, Marco e Themba estavam escondidos em uma estreita fissura em uma das paredes.

Muito obrigado por ter me ajudado Themba! - perguntou Marco enquanto tentava para o sangramento em seu joelho direito - Você viu para onde a Sophie foi?
- A Sophie sabe muito bem cuidar de si mesma! Ela parece frágil, mas na verdade é muito forte e tem um excelente domínio da água - respondeu o elemental da terra - Isso é uma vantagem aqui nesse cenário! Eu não podia deixar você continuar enfrentando a criatura com o joelho desse jeito!
- O seu elemento também te dá uma vantagem nesse local, afinal você pode formar fissuras como essas e a sua barreira de pedras também nos dá uma boa camuflagem!
- Você tem razão! Mas nós não podemos ficar muito tempo aqui, quanto tempo você acha que precisamos para que você possa andar novamente?
- Sinceramente, eu não sei Themba! Mas você não precisa ficar comigo - disse Marco e repousando a mão no ombro de Themba, disse: - Eu já te agradeço por ter me ajudado a fugir! Muito obrigado!
- Que nada irmão! - disse Themba retribuindo o gesto - Eu nunca te deixaria para trás! E eu vou ficar aqui até que você esteja se sentindo melhor!
- Não tenho palavras para descrever a minha gratidão Themba! - disse Marco, emocionado - Depois que aquela criatura começou a nos seguir, eu percebi que não iria ser de muita ajuda, pois não há nada que os meus animais possam fazer contra a criatura! Você e a Sophie conseguiram contê-la, mas ela acabou nos alcançando novamente e eu fui ferido! Isso me fez sentir duplamente inútil, já que meus poderes não têm nenhum efeito sobre a criatura e eu ainda fui ferido!
- Os seus poderes são muito importantes em outras situações e você não tem culpa de ter sido ferido! - disse Themba, enfaticamente - Por isso eu pedi para que a Sophie tentasse conter a criatura enquanto nós fugíamos! Eu confio na capacidade dela e me preocupo com voc... - O elemental da terra foi interrompido pelo barulho causado pelo desmoronamento da barreira de pedras.
- Themba! - disse Sophie, a qual estava caída sobre os destroços da barreira de pedra - Me ajude!
- Marco, fique aqui! - disse Themba correndo para socorrer Sophie.
- Prisão de água! - gritou Sophie e uma grande massa de água se moveu em direção ao que Themba deduziu ser a criatura.
- Venha cá Sophie! - disse Themba estendendo uma mão para a ajudar a elemental da água a se levantar - Você precisa descansar!
- Eu não posso! - disse a elemental quando já estava de pé - Nós precisamos proteger o Marco!
- Você já fez o bastante -  disse Themba, decidido - Agora vá descansar! - Então o elemental da terra tomou a dianteira e disse: - Dupla barreira de pedras! - Uma enorme massa se interpôs entre os elementais e a criatura, a qual estava livre da prisão de água feita por Sophie - Isso vai nos dar algum tempo para que vocês possam descansar! Depois temos que caminhar para longe dessa criatura! Também precisamos encontrar a Cho!
- Eu quero ajudar!
- Não Sophie! Você deve estar no limite! Eu pensei que você tivesse fugido, mas pelo visto ficou esse tempo todo contendo a criatura! Eu sempre soube que você era forte!
- Obriga... - Sophie não terminou a frase, porque desmaiou.
- Sophie! - exclamou Themba parando a queda da elemental da água - Eu disse que você precisava descansar!

- Alguma novidade nas inscrições Ethan? - gritou Oliver para o elemental do fogo, o qual estava alguns metros a sua frente.
- Não! As inscrições somente repetem que "estamos próximos" - respondeu Ethan - Então vamos apenas seguir as setas por enquanto!
- Espero que elas nos levem a algum local! - cochichou Gabriela para Oliver.
- O Ethan parece estar bem confiante nisso! - respondeu Oliver - Pelo menos agora nós estamos juntos e temos alguma direção levemente concreta!
- É muito bom tê-lo de volta!
- Sim! - disse Oliver - Eu estava com medo de... você sabe... acabar perdido nessa caverna e nunca mais encontrá-lo! 
- Eu imagino! Nesses momentos a gente percebe a necessidade de fazer e dizer o que queremos enquanto ainda temos tempo!
- O que você quer dizer?
- Oliver - disse Gabriela se pondo no caminho do elemental de gelo - Diga ao Ethan o que realmente sente por ele! Mostre a ele o que você sente, enquanto você ainda pode!
- Eu... eu não sei o que fazer Gabi! - disse Oliver, contornando a elemental das plantas e continuando o seu caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que você achou?
Dúvidas? Opiniões?